sexta-feira, 4 de março de 2011

P220: AS LAVADEIRAS DE DULOMBI - RICARDO LEMOS

                  Ao visualizar as imagens deste artigo cuidadosamente guardadas no baú armazenado no sótão da minha casa, invade-me uma certa nostalgia dos tempos passados em convívio entre os aborígenes de Dulombi.
Curiosamente, a simples imaginação de cada fotografia, faz com que o tempo recue, e pareça que fora ontem que andara por aquelas paragens exuberantes, com a máquina fotográfica na mão, a captar imagens das lavadeiras de Dulombi.
Mas a realidade prevalece, e leva-me a pensar que muitas daquelas personagens que aparecem em cada foto, já não pertencerão ao mundo dos vivos, apenas e só as suas almas deverão vaguear por aquelas paragens tropicais e, então, o sentimento de saudade aperta mais um pouco, o recordar do passado aviva-se, como a querer voltar, por um dia apenas, à pequena bolanha de há quarenta anos.

Na periferia de Dulombi existia uma pequena bolanha, de água corrente e límpida. Era o local de encontro das lavadeiras de Dulombi que, aos magotes, executavam as tarefas da lavagem das roupas da maioria das tropas estacionadas na dita tabanca, isto é, a Companhia 2700.

 As bajudas e mulheres-grandes, com o seu ar bonacheirão, executavam com aquela calma própria das gentes dos trópicos, a lavagem das peças de roupa dos militares e não só, ora ensaboando -as metodicamente, para, de seguida, as mergulhar nas águas pouco profundas da pequena bolanha, com uma certa sabedoria do povo indígena, aplicando gestos de verdadeiras profissionais, baloiçando cada peça no ar e fazendo-a mergulhar nas águas transparentes com o objectivo de retirar o resto da sujidade junta com o sabão, ficando prontas para a torcedura final. 
De quando em vez, eram visitadas pelos seus clientes militares que, aproveitando o ambiente descontraído das lavadeiras, tomavam uma “banhoca” retemperadora e outrossim para conviverem com uma ou outra bajuda mais esbelta.
Bajudas e mulheres-grandes, lavando. Os utensílios utilizados pelas lavadeiras eram as bacias de cor branca e as pequenas tigelas, as latas metálicas, assim como as pequenas pedras planas e lisas, utilizadas para o ensaboamento e esfregamento das roupas.
Mulher-grande com o seu filho, na pequena bolanha, e os utensílios de lavagem da roupa.

 O trabalho de colocar a roupa a secar perto da bolanha. Ao longe, um indígena com a sua arma a tiracolo.


Grande plano de uma lavadeira, na pequena bolanha, com os seus trajes coloridos, não faltando a pulseira, os brincos e o colar. Na mão esquerda, uma lata utilizada no trabalho de lavar a roupa. Alguém se lembra do nome desta lavadeira?
E quanto era a remuneração mensal de uma lavadeira? Segundo me lembra, pagava-se normalmente o valor de 50$00 Guineenses.

                                                                                    Ricardo Lemos




                               

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