quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

P217: O NOSSO CAPELÃO - ANTÓNIO TAVARES (CCS)

A maioria dos ex-combatentes das guerras coloniais foi educada num enquadramento católico. Assim, conheceram muitos padres…os da aldeia de seus pais, das suas freguesias de nascimento e de residência, da disciplina de Religião e Moral e o capelão dos batalhões …todos irmanados na doutrina cristã mas diferentes na sua aplicação. O nosso Alferes Miliciano Capelão (na foto) era um Bom Homem da Igreja Católica Romana, preocupado com todos os combatentes independentemente da cor e religião de cada um. Recebia todos e dava conselhos para ajudar da melhor maneira possível a ultrapassar os diversos obstáculos que apareciam a jovens obrigados, inclusive ele, a uma guerra de guerrilha naquelas matas do Leste do Teatro de Operações da Guiné. Sempre desarmado ia frequentemente às companhias do BCaç.2912 (Cancolim, Dulombi e Saltinho) em colunas auto acompanhado pelo 1º.Cabo Esteves, o sacristão do batalhão. Mais velho do que os milicianos era alegre, bondoso e estimado por todos. Várias ocasiões discordou com os Comandos pelas injustiças e graves erros destes. Alguns Oficiais Subalternos faziam partidas ao Capelão mas este ficava indiferente e por vezes sustentava as piadas e as inofensivas brincadeiras dos seus colegas de classe. Uma das partidas era saborear (eu bebi) o delicioso vinho da Missa quando encontrávamos uma garrafa já aberta…o Capelão estranhava a rápida evaporação do precioso néctar, recebido da Intendência, em Bissau, mas nada acontecia. O Padre João da Cruz Conceição viveu connosco desde o IAO, no Campo Militar de Santa Margarida, em Março de 1970 até ao dia 23 de Março de 1972 em Lisboa. Em 1975 encontrei-o, na Travessa de Cedofeita, no Porto. Recordamos pessoas, aventuras e desgraças do BCaç.2912.Despedimo-nos.Infelizmente pela última vez. Em 23-05-1994 escrevi para Alqueidão, Figueira da Foz, a convidá-lo para o nosso 1º Convívio, realizado em Paços de Ferreira (25-06-1994) mas a carta foi devolvida ao remetente e continua em meu poder em homenagem a um HOMEM que me ajudou. Era um autêntico frei Tomás, da Igreja Católica Romana, a exercer o Ministério Cristão com celebração diária de Missa, numa morança, dentro da população, e assistência de alguns militares e indígenas. O Padre Conceição regia-se pela Bíblia, os Islamitas (Fulas) pelo Alcorão… ambas religiões monoteístas… mas o Deus de cada um.
Querido e amigo Padre João Conceição descanse em paz.
Cumprimentos do António Tavares
Foz do Douro, 15 de Fevereiro de 2011

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