domingo, 31 de janeiro de 2010

P148: ESPECIALIDADES NO NOSSO BATALHÃO


Para além daquelas funções fundamentais e lógicas numa estrutura militar, tais como: Apontador de Metralhadora, Atirador, Condutor Auto, Cozinheiro, Enfermeiro, Escriturário, Maqueiro, Mecânico Auto, Mecânico de Armas Ligeiras, Mecânico Radiomontador, Médico, Informações, Operações Especiais, Operador Cripto, Radiotelegrafista, Reabastecimentos, Reabastecimentos de Munições, Sapador, Secretariado, Serviço de Material e Vagomestre, havia outras que completavam a dotação do nosso Batalhão: Capelão (o nosso querido Conceição. Descanse em paz e desculpe aquelas "carvalhadas" que eu proferia, qual teste à sua seráfica capacidade de santidade) e respectivo Auxiliar de Serviços Religiosas, Bate Chapas, Caixeiro, Carpinteiro, Combustíveis e Lubrificantes, Corneteiro, Correeiro (que faria um Correeiro em Galomaro?) e Pintor.
Já agora. Algum de vós saberia que na sede do Batalhão existia um Analista de Águas? E qual era o Furriel de Armas Pesadas da 2700? O Soares, claro!!!
Mas a especialidade que me ficou no coração foi… imaginem: Básico!!! Até porque de básico eles (3) não tinham nada. Querem melhor prova? O Zé Luís. Que seria do Sargento Panóias sem a sua sempre pronta e eficiente colaboração? Que seria de nós sem aquela contagiante boa disposição e aquelas hilariantes macacadas? Que seria de nós sem um “Capitão” á altura para receber os “piras”?
Entretanto, há três especialidades aqui não mencionadas mas que foram fundamentais e disponibilizadas entre os atiradores ou especialistas do nosso grupo. Refiro-me ao Padeiro (Cândido Nunes), ao Professor (Marinho) e aos Pedreiros que puseram de pé o nosso aquartelamento bem como as moranças da população.

sábado, 30 de janeiro de 2010

P147: O ÚLTIMO PRÉ


A trinta e oito anos de distância são estes os retalhos da vida dum guerreiro.

sábado, 23 de janeiro de 2010

P146: ERA ASSIM, AOS SÁBADOS, NO BAR DO BORGES!!!

P145: PAIGC EM DULOMBI


Passo a transcrever intervenção do António Morais (meu conterrâneo pertencente à última Companhia que esteve em Dulombi).

Depois da nossa Companhia, ser deslocada para a Cop 2/Nova Lamego, ficámos entregues a nós próprios; o gerador deixou de trabalhar e por via desta avaria tinhamos noites escuras como bréu. Abastecimentos não havia. Por parte do Batalhão, em Galomaro, esqueceram-se que havia alguém no destacamento de Dulombi, do qual eram responsáveis. A nossa alimentação, passava pela dobrada liofilizada, que precisava estar 24 horas em água para voltar ao normal, e era cozida com feijão e chouriço, enlatado, nas tais latas de azeite. Recordam-se???!!! Um agradecimento muito grande, tal como ele, Grande, ao nosso Padeiro, pois todas as manhãs, tinha pão quente para o nosso pequeno almoço, extensível ao nosso Cozinheiro, espera, um foi substituído por outro pois arranjavam sempre alguma coisa para as nossas refeições. Tínhamos sempre petiscos. Todas as manhãs depois do pequeno almoço era preciso carregar água, para nosso consumo. A água do poço onde nos íamos abastecer, começou a ficar castanha, cor de terra. Como bom beirão, o FBarata entende, há que limpar e cavar mais fundo, para termos água limpa. No decurso desta operação, que foi levada a cabo por seis bravos durante uma manhã inteira, foram avistados nestas águas agitadas uns periscópios do IN que observavam o nosso esforço. Eureka. Não era IN, eram marcianos vestidos de cores esverdeadas. Fomos nós que primeiramente descobrimos o ET. Qual Spilberg!!! O Dulombi encontrou-o.
Pois meus Caros, os animaizinhos acabam esfolados sem a sua pele verde, fritinhos com arroz, deu um belo almoço. Pois eram, meus amigos, rãs. Rãs, naquele tempo não iam à mesa de rei.
O Jamanca,(o pai das bajudas) quando apanhava uma gazela nem pelo quartel passava nem a prova dava. Quando era javali tinhamos direito a comê-lo pagando 350 pesos. O nosso padeiro fazia milagres no seu forno assando o dito mesmo com cheiro e sabor a barrascom.
Nos blogs fala-se muito no macaco-cão, em duas ocasiões o nosso amigo Jamanca, presenteou-nos com o dito primáta, confesso, perante vós, que nunca lhe tomei o paladar, pois depois de esfolados pareciam autênticos fetos humanos.
Por duas ou três vezes, mandámos o filho do Jamanca, (recordam-se da Comp. 3491, o miúdo que ajudava na cozinha) de bicicleta, a Galomaro, procurar alguma coisa para nós comermos e numa dessas vezes também medicamentos, pois encontrava-me com paludismo. Durante dias sofri com 40º de febre .
É nesta agonia que permaneço deitado na cama quando ouço uma certa agitação. Entre esta agitação e as fotos do encontro com os elementos do PAIGC medeia sensivelmente uma hora. Valeu-nos para a história o nosso fotógrafo, o Enfermeiro Óscar. (Óscar gostaria de dar-te um abraço, meu velho, aparece). Encontrava-me debilitado, fui o último a chegar ao encontro. Toda a gente foi à mata conhecê-los. O contacto deu-se quando dois deles, à civil, percorriam um trilho que dava ao quartel. Abordaram um ou dois elementos da população, perguntando onde era o Dulombi.
Depois das fotos, convidámo-los para o quartel, hesitaram, hesitaram, não sei se havia mais alguém a assegurar e a fazer segurança na retaguarda se o objectivo não era entrarem no Dulombi.
Confesso, que os meus tímpanos não se sentiram bem quando ouviram falar francês entre eles.
Depois da hesitação alguns vão de regresso, os outros, penso os responsáveis, vão connosco para o quartel.
Foram bem recebidos por nós e pela população, comeram e dormiram no quartel.
Por agora é tudo. Vou enviar-te um aerograma que relata os acontecimentos mais próximos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

P144: PLAGIANDO LUÍS DIAS


Sinto-me um plagiador mas tocou-me de tal maneira o último post do Luís Dias no Blog da sua Companhia (http://wwwccac3491guine7174.blogspot.com/2010/01/ainda-ha-uisque-da-guine.html) que, também, tive necessidade de escrever algo sobre as nossas "bebidas nobres" na Guiné.
Era considerado como que uma benesse, para quem lutava no Ultramar, ter-se acesso ao whisky e à Coca-Cola, sendo o consumo, desta última, proibido na Metrópole. Havia duas explicações para esta proibição. Uma era a antipatia que Salazar nutria pelos Estados Unidos, país fornecedor do produto, essencialmente, por este mesmo país ser o paladino dos valores democráticos e pelo apoio demonstrado ao direito à autodeterminação dos povos de África e Ásia (não nos esqueçamos que já tinham tido um papel determinante na autodeterminação de alguns povos da América Central). Outra explicação era o facto de na composição da bebida entrar um componente - a cola - que era considerado droga. Devem estar recordados quando nos deslocávamos em operações, aqui e além os mílicias e os guias extrairem de determinada árvore um fruto (presumo que era o fruto) parecido com uma noz, o qual mascavam. A mim, tal, fazia-me confusão até porque para aquilatar o prazer do seu consumo verifiquei que tinha um sabor amargo. Mas eles, autóctones, lá seguiam mascando. Diziam que era para se manterem acordados e acelerados. Pudera!!! A outra benesse era podermos desfrutar de whisky "à fartazana", produto que na Metrópole era caríssimo. Já não me recordo da periodicidade, mas cadentemente chegavam abastecimentos de Bissau com whisky de duas categorias. Uma, corrente (essencialmente Johnnie Walker Red Label e White Horse), que era consumida no dia-a-dia no Bar e também disponibilizada para os praças trazerem quando terminassem a comissão (obviamente nada obstava que o consumissem durante a comissão mas depois não tinham prenda para levar aos familiares) e outra categoria, de "marca de excelência", constituida pela bilha de Old Parr, Johnnie Walker Black Label, J&B (recordo-me que o Ravasco tinha particular apetência por esta marca), Chivas Regal 12 anos, Dimple, garrafa que tinha a particularidade de ser triangular, ondulada e envolvida em fio (foto) e depois vinha o "Porsche dos Whiskies": a bilha de Ye Monks. Ainda conservo esta que vos reproduzo e que me tem criado um problema do "caraças". Tenho vindo a estabelecer metas para a sua degustação, contudo quando essa data chega perco a coragem e ela cá se vai mantendo até aos dias de hoje. Será agora quando nascer a netita Carolina??? Se calhar não, estava assim a discriminar o Tiago!!!
P.S. - Diz o Luís Dias que está a guardar a dele para comemorar quando o Benfica for campeão. Ora bolas! Ao que isto chegou, até o Braga, este ano, lhe vai coartar tal prazer!!!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

P143: ÚLTIMA COMPANHIA EM DULOMBI

Como o Mundo é pequeno e a blogosfera é imensa. Tive há poucos dias conhecimento que um conterrâneo meu (CANAS A CONCELHO!!!) esteve em Dulombi fazendo parte da Companhia que passou o testemunho ao PAIGC. Agradeço ao António Morais a disponibilização destas fotos onde poderemos ver alguns aspectos do nosso aquartelamento bem como os Homens Grandes de Dulombi (reconheço o Ansumane) e inclusivamente alguns elementos do PAIGC. Para melhor visualização das imagens clicar sobre: "Veja todas as imagens"

domingo, 10 de janeiro de 2010

P142: PARABÉNS TIMÓTEO


Hoje, 10 de Janeiro, o Timo faz anos. Congratulemo-nos, então, por esta efeméride que neste dia se comemora fazendo votos para que daqui a sete anos possamos, novamente, celebrar uma festa à maneira.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

P141: MAIS UMA DO TAVARES - Moniz na foto (Canto sup. esq.)


A minha 1.ª noite na Guiné foi passada no cais do Pidjiguiti em 01-05-1970... a guardar 21 caixas de whisky... era o sargento de reabastecimentos do BCAÇ 2912.
Chegados a Galomaro distribuiu-se o whisky só pelos oficiais e sargentos, segundo ordens expressas do comando.
Havia duas qualidades de whisky - velhos e novos - vendidos a 95$00 e 50$00 cada garrafa, respectivamente.
Só vendíamos nos bares - oficiais e sargentos – as garrafas de 50$00 por 65$00, porquanto medido o líquido dava 13 cálices ao preço unitário de 5$00.
A título de comparação refiro que uma bazuca - cerveja de 0,6 l - custava 6$50.
O principal consumidor era um major, que se deixou vencer pelo álcool... foi evacuado para a Metrópole... enquanto durava a bebida não existia oficial... quando lhe faltava até de noite vinha à minha procura... lá íamos os dois, no seu jeep, ao armazém levantar o whisky.
Certo dia, ao abrirmos uma caixa selada faltava uma garrafa... obrigou-me a fazer um auto da ocorrência e enviá-lo para a Intendência em Bissau... obviamente que nem resposta obtivemos, embora ele fosse testemunha no auto!
Outra vez precisou da bebida mas não havia em armazém... lá arranjam a bebida... foi feita uma sindicância ao whisky... o circuito – armazém, bares e venda – estava correcto.
Começaram a fazer um rigoroso controlo ao whisky quando começaram a vir menos caixas da Intendência.
Às escondidas vendia às praças cada garrafa a 65$00.
O whisky era vendido no Café/Restaurante do Francisco Augusto Regalla e em Bafatá quase pelo dobro do preço.
Recordo que após uma dificultosa e poeirenta picada, com um banho, uma coca-cola e um whisky sentíamo-nos jovens e sadios... era a cocaína com os seus efeitos... os guinéus mascavam a coca... nós bebíamo-la.
Esta foi uma história passada no mato – Galomaro 1970/72 – onde o whisky era uma estrela e brilhante... quem nunca esteve naquelas tórridas e frias terras e na guerra colonial não sabe o valor de tão precioso líquido... houve outros camaradas na Guiné que nunca o saborearam pelos mais diversos motivos!
A venda da coca-cola em Portugal Continental era proibida.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

P140: PRISIONEIRA EM GALOMARO


Com a devida vénia e agradecimento ao António Tavares pela autorização da sua publicação, passo a transcrever Post colocado no Blog do Luís Graça.

Guiné 63/74 - P5234: Estórias avulsas (55): O ar assustado de uma prisioneira de guerra (António Tavares)
1. Mensagem de António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 5 de Novembro de 2009:

Uma das riquezas das obras de arte está na interpretação individual. Os artistas dizem que as fotos não devem ser legendadas, porém permito-me opinar sobre a foto inclusa:

Passados 40 anos já não sei qual das companhias do BCA 2912 - com a divisa EXCELENTE E VALOROSO - aprisionou esta mulher. Em Galomaro foi bem tratada embora apresente um ar assustado. Tinha razão!… Não deixava de ser uma prisioneira de guerra… Quem não estava triste era o Comandante do Batalhão!… Estaria a pensar nos seus próprios benefícios com a captura? Com o sacrifício, fome, medo, dor e morte dos subalternos o seu medalhário ficava mais rico… Em 02 de Outubro de 1971 o Comandante foi obrigado a alinhar numa Operação, após recusa de todo o pessoal para perseguir o IN que no dia anterior nos tinha emboscado em Bangacia/Duas Fontes. Após formatura e palestra lá seguiu na operação, mas chegados ao local do destino disse ao Furriel Miliciano para dispor o pessoal conforme entendesse porque já não estava muito actualizado… A vida dele também estava em perigo! … Estava na mata e na guerra de guerrilha!... Os galões não o protegiam das balas do IN…
Naquele momento deixaria de ser um militar que só pensava nele próprio? Era um ser humano igual a todos os outros que estavam sob as suas ordens! Os outros eram números que facilmente podia substituir. Para o final da comissão Janeiro/Fevereiro de 1972 era só louvores a sair em O.S. do Batalhão. Eu fui um dos muitos contemplados. O Comandante foi condecorado/louvado pelo General. Esteve presente num dos nossos convívios quiçá com outro pensamento!
Esta é uma das histórias passadas na mata do Leste da Guiné, em 1970/72, numa guerra de guerrilha que nunca será ganha por nenhum dos intervenientes.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

P139: PUB DO BORGES


Para além de Cabo-Escriturário e como tal braço direito do Sargento Panóias, o Evaristo Borges como exímio leitor das carências do mercado observou uma janela de oportunidade ao constatar que a Cantina da Companhia encerrava bastante cedo impedindo que a partir do início da noite qualquer praça que pretendesse adquirir bens essenciais (fundamentalmente, tabaco, coca-cola ou basucas) via-se impedindo de os obter. Vai daí e ideia luminosa surge: a montagem dum bar numa palhota abandonada. Tal ideia foi um sucesso. Recordo-me que, por vezes, alguns espontâneos apareciam a cantar uns fadunchos e não há bela sem senão, pontualmente, alguns frequentadores, após ingestão de várias basucas, excediam-se e lá iam as mesas pelos ares. Perante tal panorama a ASAE esteve para intervir e encerrar aquela superfície comercial, única PME existente em Dulombi.
O Evaristo encontra-se emigrado em França e através do Timóteo fez-me chegar a foto onde podemos ver o Maricato (paz à sua alma), o Soares e o Barbosa.
Por acaso alguém terá uma foto do Bar do Borges?